O ano que corria era 1990. Dia comum de treinamento do time do Corinthians no campo do Parque São Jorge, na zona leste de São Paulo. Após os trabalhos alguns jogadores tinham por costume dar uma passada na agência do Bradesco, dentro do clube, para pagar contas e acertar algumas pendências. Era início de mês e os salários tinham acabado de serem pagos.

O meia Neto, craque da equipe, como tinha um pouco mais de moral, costumava resolver os problemas acionando direto a gerente da agência. E nessa ocasião ele avistou algo curioso. Tratava-se do atacante Dinei, ainda jovem recém-revelado no terrão, conversando baixinho com o caixa eletrônico. Aquela cena roubou definitivamente a atenção de Neto e da funcionária do banco.

Depois de alguns minutos, Neto se aproximou de Dinei e observou que quando ele errava a senha da conta, a máquina emitia o tradicional aviso: "Senha incorreta. Digite novamente sua senha!". Na terceira vez, Dinei puxou o caixa e surpreendentemente disse: "Eu sou o Dinei jogador. Esqueci minha senha. Me ajuda!".

Resumo da ópera? Dinei achava que tinha uma pessoa dentro do caixa eletrônico. Neto e a gerente caíram na gargalhada e isso virou resenha histórica dentro do clube.


A história de hoje se passou com o bom e velho Vampeta, ex-volante do Corinthians, que talvez seja o legítimo rei quando a resenha é engraçada. O ano era 2001, temporada em que ele defendia a Inter de Milão. Na época alguns brasileiros faziam parte do estrelado elenco do clube italiano. Entre eles o amigo inseparável Ronaldo Nazário, o Fenômeno com quem o Vamp chegou inclusive a morar em Eindhoven, da Holanda.

O laço de amizade fez Ronaldo convidar Vampeta para ficar na casa dele enquanto passaria uns dias no Brasil fazendo tratamento médico no joelho. Ele não se fez de rogado, aceitou e não satisfeito levou o conterrâneo Zé Mario, músico de Nazaré das Farinhas, para tomar uns tragos por lá. Enquanto o violão comia solto a dupla ia bebendo com força os vinhos da adega do verdadeiro anfitrião.

Em dado momento, o funcionário de Ronaldo - uma espécie de caseiro - voltou tremendo da cozinha e perguntou: "Quem abriu esse litro de vinho aqui? Quem deu para o Ronaldo foi o papa João Paulo II!". Vampeta percebeu o que tinha feito tentou dar um migué, mas o eterno camisa 9 da Seleção percebeu e foi direto:

"Pô Vamp, bebeu o vinho do Papa! Ele não tinha preço!". O também pentacampeão rebateu na hora: "Não tem preço mesmo. Êita vinho ruim! Parece vinagre".

Os dois caíram na gargalhada e Vampeta prometeu pagar um vinho caro para Ronaldo, algo que obviamente nunca aconteceu. 

Certa vez o goleiro Marcos, pentacampeão do mundo com a Seleção, estava jogando conversa fora com o amigo Zezinho, cunhado do também goleiro Sérgio, parceiro de Palmeiras. Era um prédio baixo, de apenas dois andares, no bairro da Lapa e ambos estavam na varanda quando avistaram dois rapazes fazendo uma força danada para empurrar um carro na rua.

Como a chuva estava começando a ficar forte, ambos se comoveram com a situação que ali se apresentava. "Poxa vida, fiquei com dó dos caras. Tudo indicava que havia acabado a bateria do carro e os dois estavam sofrendo pra fazer o carro pegar no tranco", disse o eterno 'São' Marcos do Palestra Itália.

Marcos e Zezinho desceram do prédio e depois de muito empurrar conseguiram fazer o carro pegar no tranco. Após os agradecimentos a dupla que estava na chuva entrou no carro e partiu. Ao dobrar a esquina para voltar ao apartamento os dois viram um senhor esbaforido dizer: "Viram um monza azul passando por aqui??? Roubaram meu carro!".

Descobriram que tratava-se do carro que haviam acabado de ajudar a empurrar. E Marcão que é outra fera da resenha, de migué, não teve dúvidas em falar: "Rapaz, não vi ninguém passar aqui não".

É mole ou quer mais?


Certo dia o Palmeiras foi jogar no Nordeste do Brasil mais uma rodada do Campeonato Brasileiro. Na chegada a Recife, ainda dentro do ônibus, o volante Amaral avistou uma baladinha iluminada e movimentada. No letreiro observou: Forró do Gerson. Já pensou que seria o local ideal para curtir a noite após o jogo. Mas, é claro, a vitória teria que vir.

Dentro de campo o Verdão fez a parte dele e venceu. O esquema do Amaral estava armado. Tanto que chegou nos amigos e falou: "Achei o lugar certo pra gente ir! Tem um forrozinho bom lá na ponta da praia da Boa Viagem". A boleirada adorou e para comportar todo mundo foram solicitados quatro táxis. 

Cada taxista cobrou caro. Mas foram categóricos: nunca tinham ouvido falar de nenhum 'Forró do Gérson' na cidade. Amaral não titubeou: "Toca aí que chegando lá eu sei onde é". Chegando no local, mais iluminado do que nunca, todos avistaram o tal letreiro. Mas não era Forró do Gérson coisa nenhuma. Estava escrito: Forro & Gesso Material de Construção.

É mais uma 'quebrada' história do grande Amaral, um dos mestres da resenha. Naquele dia ele quase apanhou dos colegas de Palmeiras. A noite fracassou e virou motivo de piada.
O que significa a palavra 'Resenha'? Segundo os dicionários é uma descrição feita com detalhes. Mas no mundo da bola uma resenha é simplesmente aquele papo descontraído, que junta uma galera para jogar conversa fora. Tem uns nomes que marcaram época que são especialistas em liderar uma boa resenha. Quer se divertir? Precisa parar 5 minutos para ouvir o ex-volante Amaral, um cara que tem muita história pra contar e quase sempre hilárias. Nesse ponto outro mito no assunto é o bom e velho Vampeta, rei das histórias cômicas.

Tem alguns caras que a resenha é histórica. Precisa parar para ouvir com atenção e admiração. Um exemplo disso é o Pepe, ex-ponta que marcou época na geração mágica do Santos de Pelé. No alto de seus 84 anos ele descreve com uma riqueza de detalhes 'absurda' os tempos em que dividia vestiário com o 'Rei' do futebol e companhia.

Tem também - E COMO TEM! - a turma que solta uma resenha fraca atrás da outra. Mas nesse caso é melhor correr porque nosso ouvido não é penico. De qualquer forma, a partir de hoje, esse espaço foi criado por apaixonados do esporte mais popular do planeta terra com a única intenção de contar história. E boas histórias! Bem vindos ao 'Resenhas' da Bola!